sábado, 21 de fevereiro de 2015

O inabitual como susto


Lei nº 9610/98: " Art.7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido (...) I- os textos de obras literárias, artísticas ou científicas."

O inabitual como susto: de Feyerabend a Charles Richet

 Parte 1

  Escrito por Álvaro Vinícius
  Fevereiro de 2015


 "Todas as metodologias, até as mais óbvias, tem os seus limites". (Paul Feyerabend)

“A nossa inteligência rotineira está de tal maneira ordenada, que se recusa a admitir o que é inabitual”. (Charles Richet)



Paul K.Feyerabend[1]
Charles Richet[2]




  É costumeiro analisar diversas situações por meio de um determinado referencial prático, seja em sua multiplicidade expressiva ou em seu fiel fundamento, no qual subsiste o princípio da convicção, que orienta, em especial, a interpretação. Nas ciências da natureza, por exemplo, existe um amplexo de possibilidades na elaboração de um sistema teórico, ao qual não se deixa de atribuir, com certa dose de sofisticação, os elementos formais da lógica, tais quais os princípios de identidade, da não-contradição e do terceiro excluído (tertium non datur); e sabe-se que, além disso, apenas um modelo teórico obterá êxito em função de circunstâncias que abrangem tanto a relação positiva entre a explicação e a experiência quanto os fatores que condicionam a natureza investigativa. Destarte, torna-se-ia inconcebível pensar em um único critério ou método de observação científica do qual se desmembre um serial de proposições, cujo esquema dedutivo seja capaz de delimitar toda a trama de um problema, até  mesmo quando esse critério representa a "vitória empírica" do processo seletivo de critérios, uma espécie de "primogênito" da experiência.  Segundo Paul K. Feyerabend, "um cientista que deseja maximizar o conteúdo empírico das concepções que sustenta e compreendê-las tão claramente quanto lhe seja possível deve, portanto, introduzir outras concepções"[3], uma vez que necessita adotar "uma metodologia pluralista"um conjunto de observações científicas a que se permita a coexistência de perspectivas contrastantes, diferentemente de uma persistência favorável a determinadas teorias por confabulações do espírito de conveniência e de época, como também da confirmação prática como a última instância para o carimbo de "segurança teórica". Um dos pioneiros da parapsicologia, autor da obra Traité de Métapsychique, o médico francês Charles Richet, observou bem antes de Feyerabend que "A nossa inteligência rotineira está de tal maneira ordenada, que se recusa a admitir o que é inabitual"[4]e, de fato, nossa salutar capacidade intelligiblis pode se submeter ao régio princípio de tudo avaliar e, ao mesmo tempo, desprezar o que se distancia do permanente vetor reflexivo mais comedido à prática dos papers, como se a natureza estivesse sob a batuta de um simples modelo verificação e análise. De acordo com Richet, "a história das ciências nos ensina que as mais simples descobertas foram repelidas, a priori, sob o pretexto de que estavam em contradição com a ciência" [4]; para Feyerabend, "Todas as metodologias, até as mais óbvias, tem os seus limites". Com efeito, resta-me dizer que, de Charles Richet a Feyerabend, de uma época a outra, o inabitual tece um susto acadêmico; e o que dizer atualmente, se o susto ainda existe? 




Fontes:

1-http://fr.wikipedia.org/wiki/Paul_Feyerabend#mediaviewer/File:Paul_Feyerabend_Berkeley.jpg

2-http://fr.wikipedia.org/wiki/Charles_Richet#mediaviewer/File:Charles_Robert_Richet_5.jpg

3-FEYERABEND, Paul  K. Contra o Método; tradução Cesar Augusto Mortari.-2.ed.-São Paulo: Editora Unesp, 2011.

4-.RICHET, Charles. Traité de métaphysique.


Álvaro Vinícius

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Possui formação em Engenharia Elétrica. Nas horas vagas, escreve para o blog Polymath Sirius ASociety sobre Ciência, Política, Matemática, Filosofia Natural e Música.




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